segunda-feira, 21 de junho de 2010

Morre José Saramago

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Morreu na última sexta-feira (18 de junho), aos 87 anos, José Saramago, um dos maiores escritores da contemporaneidade. Ele faleceu em sua casa, em Lanzarote, nas Ilhas Canárias, vitíma de leucemia crônica. Saramago nasceu no dia 16 de Novembro de 1922 na aldeia ribatejana de Azinhaga, concelho da Golegã, e com dois anos de idade mudou-se com seus pais para Lisboa. De família humilde, o escritor enfrentou muitas dificuldades econômicas teve que abandonar os seus estudos e trabalhar já aos doze anos de idade, mas nunca desistiu dos seus ideais.
Dentre os prêmios recebidos por José Saramago destacam-se o Prêmio Camões (1995) e o Nobel de Literatura (1998) - o primeiro concedido a um escritor de língua portuguesa.
A metáfora e a crise existencial do homem contemporâneo são constantes em suas obras. Em “Ensaio Sobre a Cegueira” (1995), isso é bem retratado, a cegueira branca (metáfora) revela a alienação desse homem individualista e desumano regido por uma lógica capitalista que o tornou cego de si e do outro. Há partes que chocam, e podem até provocar naúseas, criadas propositalmente para uma reflexão sobre o eu e o outro , faz um apelo a humanização.
Leia, abaixo, o que Saramago afirmou ser uma das suas grandes angústias:

Eu digo muitas vezes que o instinto serve melhor os animais do que a razão a nossa espécie. E o instinto serve melhor os animais porque é conservador, defende a vida. Se um animal come outro, come-o porque tem de comer, porque tem de viver; mas quando assistimos a cenas de lutas terríveis entre animais, o leão que persegue a gazela e que a morde e que a mata e que a devora, parece que o nosso coração sensível dirá «que coisa tão cruel». Não: quem se comporta com crueldade é o homem, não é o animal, aquilo não é crueldade; o animal não tortura, é o homem que tortura. Então o que eu critico é o comportamento do ser humano, um ser dotado de razão, razão disciplinadora, organizadora, mantenedora da vida, que deveria sê-lo e que não o é; o que eu critico é a facilidade com que o ser humano se corrompe, com que se torna maligno.
(...)
Uma sociedade que instituiu, como valores a perseguir, esses que nós sabemos, o lucro, o êxito, o triunfo sobre o outro e todas estas coisas, essa sociedade coloca as pessoas numa situação em que acabam por pensar (se é que o dizem e não se limitam a agir) que todos os meios são bons para se alcançar aquilo que se quer.
Falámos muito ao longo destes últimos anos (e felizmente continuamos a falar) dos direitos humanos; simplesmente deixámos de falar de uma coisa muito simples, que são os deveres humanos, que são sempre deveres em relação aos outros, sobretudo. E é essa indiferença em relação ao outro, essa espécie de desprezo do outro, que eu me pergunto se tem algum sentido numa situação ou no quadro de existência de uma espécie que se diz racional. Isso, de facto, não posso entender, é uma das minhas grandes angústias.

José Saramago, in 'Diálogos com José Saramago'

link blog de Saramago: http://caderno.josesaramago.org/

terça-feira, 1 de junho de 2010

Gullar, Prêmio Camões

O poeta Ferreira Gullar ganhou o “Prêmio Camões” 2010. Este prêmio é considerado o mais importante da língua portuguesa. O escritor nasceu em São Luis do Maranhão, em 1930. Sua obra de maior repercussão é “Poema Sujo” (1975), escrita quando se exilou na Argentina (1971) por causa do golpe militar (1964). Aliás, esse ativismo politico é percebido em vários de seus poemas nos quais os problemas da vida política e social do povo brasileiro sempre estiveram presentes. Sua poesia é inquietante, fala do cotidiano e mexe com nossos vários "eus". Leia no trecho abaixo o que ele afirma sobre suas poesias:

"Abandonei o neoconcretismo porque considerei que essa experiência estava esgotada. Isso coincidiu com uma virada da política brasileira, com a posse de João Goulart. Empolguei-me pela possibilidade de transformação social e minha poesia acompanhou isso (...). Minha poesia de hoje é desdobramento disso. Costumo dizer que a poesia nasce da prosa. O que existe é a linguagem de todos. Uso e abuso dela, até da palavra chula. Nunca busquei o poema puro. Não me preocupo com experimentalismos ou estéticas verbais. Quero um poema que nasça da vida (...)".

Dos poemas de Gullar, que eu já li, um dos meus preferidos é o “Traduzir-se” nele o poeta aborda, de forma genial, as dualidades do ser humano: “uma parte” / “outra parte”; “multidão” / “solidão”; “pondera” / “delira”; “vida” / “morte”; “vertigem” / “linguagem”.

Assista este vídeo no qual o poema é cantado por Adriana Calcanhotto. Muito lindo... vale a pena conferir!!!




Fonte da citação: Jornal de Poesia, Ferreira Gullar, Prefácio, ensaio, crítica, resenha & comentário, Cristiane Costa. Disponível em: http://www.revista.agulha.nom.br/poesia.html

Fonte da Foto:http://i23.photobucket.com/albums/b399/josevianafilho/20020207ferreiragullar.jp

Drummond no SESC

Oi, pessoal!

 
O “Projeto SESC Literatura” está fazendo uma homenagem a Carlos Drummond de Andrade. O projeto iniciou no dia 03/05 e vai até 15/07/10. Click no link “acontece . . .”, na barra lateral do blog, e veja a programação completa .


E por falar em Drummond...
     
As sem-razões do amor

Eu te amo porque te amo,
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.

(Carlos Drummond de Andrade)

       
Fonte da imagem: http://images.quebarato.com.br/photos/big/5/4/528754_7.jpg